Ator, dançarino e lutador, conheça a história de Carlos Toyota

Por Alex Kinjo em 13-03-2018   Destaque


TopBR.JP – Quem acompanha o cenário das lutas na comunidade brasileira radicada no Japão, certamente conhece Carlos Alberto Toyota. O polivalente lutador é respeitado e admirado pela sua relação com as artes marciais através do karatê, kickboxing, muay-thai, jiu-jitsu, judô e taekwondo e pelas passagens nos maiores eventos de MMA do Japão e da Ásia como Deep, Heat, Real Fight, Road FC, Rizin entre outros, além das conquistas de dois cinturões do Accel.

O que pouca gente sabe é que o novo-andradinense criado em Guaíra (SP) começou no esporte através da dança e passou pelo teatro antes de brilhar no ringues. Num bate-papo com a TopBR.JP, ele contou sua trajetória e os planos para 2018. Confira:

 

DANÇA E TEATRO

A dança entrou na vida de Carlos Toyota logo na infância com ritmos populares como samba, pagode e funk. Na adolescência, ele participou de um grupo de break dance chamado Demons of Funk que se apresentava na noite de Guaíra. A juventude também foi marcada pelas peças teatrais que participava incentivado pela professora Cléia, a quem se sente agradecido pelo apoio às crianças de sua região. “Era um projeto social que tirarava crianças da rua e proporcionava oportunidades de estudo e trabalho. Em 2016, pude visitá-la pessoalmente para agradecê-la”, afirmou.

Na década de 90, ele integrou um grupo de lambada que animava festas e bailes em estabelecimentos brasileiros em Shizuoka e Aichi. Participou ainda de um grupo de teatro com atores dekasseguis. “Formamos com a produtora e atriz Cris Miyamoto, o primeiro grupo teatral de nipo-brasileiros. Inclusive, fizemos uma peça patrocinada por uma companhia telefônica que foi exibida num canal de TV japonês”, orgulha-se o lutador que também já se aventurou como membro de grupo de pagode no arquipélago.

 

ARTES MARCIAIS

O kung fu foi a primeira arte marcial praticada por Carlos Toyota. Ele treinou com um primo durante a adolescência antes de decidir vir ao Japão.  Com 19 anos, desembarcou no país para trabalhar numa empresa de funilaria e reforma de navios em Hiroshima. Em seguida, se mudou para Yokohama (Kanagawa) e Fuji (Shizuoka), onde após se estabilizar no serviço, mergulhou no mundo das lutas da terra do sol nascente.

Passados cinco anos, Toyota trabalhava como segurança noturno paralelamente à fábrica. Um amigo, faixa preta de karatê, o chamou para um treino sem compromisso. “Passei um sufoco danado. Foi aí que vi o quanto precisava aprender”, recorda bem-humorado. Foi no karatê de Okinawa que Carlos deu os primeiros passos em sua longa jornada antes de subir ao octógono. Após obter a faixa preta no estilo Shorin-ryu, presenciou o fechamento do dojô e foi convidado para frequentar uma academia da modalidade Goju-ryu. “Como tinha mais de 100kg e precisava emagrecer 20kg para competir, o sensei me aconselhou a ir para o kyokushin”.

Fotos: Cedidas

A adaptação às regras de comportamento e etiqueta do novo dojô foi difícil no começo, mas a dedicação e o carisma do brasileiro cativaram o responsável pela academia e Toyota tornou-se um dos alunos prediletos no local. “Alí nunca tinha parado um estrangeiro. Ganhei troféus, eles passaram a gostar de mim e fiquei bem respeitado”. Após obter a faixa preta de kyokushin, ele começou a se interessar pelo vale-tudo, mas precisava de uma boa noção de técnicas de chão antes de fazer a transição.

 

ARTE SUAVE
Experiente com socos e chutes, era chegada a hora de aprender finalizações, chaves, estrangulamentos e imobilizações. A eficiência do jiu-jitsu brasileiro ganhava cada vez mais respeito no Japão e Toyota iniciou na arte suave sob orientação do mestre Edson Leandro, em Hamamatsu (Shizuoka). Sagrou-se campeão nacional, asiático, pan-americano e europeu. Um dos primeiros brasileiros da comunidade a conquistar títulos fora do Japão.

No período, praticou também boxe, muay-thai e obteve a faixa preta de judô. “No judô, aprendi através de dois irmãos, Rodrigo e Yudi, de Foz do Iguaçú (PR) uma preparação de competição que levo até hoje”, relata. Na faixa roxa de BJJ, migrou para o MMA onde permanece até hoje. Faixa preta terceiro grau de jiu-jitsu, já formou mais de 20 faixas pretas através de sua academia, Carlos Toyota Dojô, situada em Hamamatsu.

 

 

 

MMA
“Entrei para o MMA com 35 anos e 90kg, mas meu técnico disse que pela minha genética e disciplina que mantinha sem fumar ou ingerir bebidas alcoólicas, poderia chegar até os 40 lutando tranquilamente. Hoje já vou para 47, ou seja, estou com sete anos de lucro”, brinca. De lá para cá, o atleta disputou os principais eventos japoneses até chegar aos maiores da Ásia. Lutou no Deep, Mars, Heat, B-Fight, Fortíssimo, Pride Challenge, K-1 Energy, Gladiator, Real Fight, Arzalet, Revolution, Accel, Road FC, Rizin e Ganryujima.

Carlos Toyota durante camp de treinamento na X-Gym (RJ)

Para Toyota, sua luta mais marcante aconteceu no Deep, em 2007, quando nocauteou Daijiro Matsui, ex-parceiro de treinos do lendário Kazushi Sakuraba. “Estava apreensivo porque ele havia perdido somente por pontos para nomes como Wanderlei Silva e Vitor Belfort. No dia anterior à luta, ouvi o técnico dizer que eu duraria apenas dois minutos. Então, fiquei muito mais motivado. E no final, foi eu quem o nocauteei em dois minutos”, lembra.

 

PROJEÇÃO INTERNACIONAL

Já a luta divisora de águas de sua carreira foi o combate contra o gigante coreano de 2m18cm e 150kg, Hong Man Choi, em julho de 2015, pelo Road FC 024, em Tóquio. “Iria enfrentá-lo anteriormente no Revolution na Coréia do Sul, mas ele não apareceu para lutar. Cheguei a falar para a imprensa que iria buscá-lo na casa dele e isso teve grande repercussão. Então, quando o quando evento veio para o Japão, lembraram da nossa rivalidade e fechamos essa luta”, explica.

O nocaute sobre Choi repercutiu pelo mundo e Toyota foi chamado para disputar o cinturão do Deep. No combate contra o indiano Jaideep Singh, ele rompeu os ligamentos do braço direito e mesmo assim continuou lutando e atacando o adversário até o médico decidir pela interrupção da luta e obrigar seu córner a jogar a toalha. A performance e o esforço de Toyota fizeram o ex-presidente do Pride e mandatário do Rizin, Nobuyuki Sakakibara, o convidar pessoalmente para lutar no evento de estreia da organização em dezembro de 2015.

 

HOMENAGEM DE HONRA AO MÉRITO

Em janeiro de 2016, Carlos Alberto Toyota recebeu a medalha de honra ao mérito em sessão solene da Câmara Municipal de Guaíra pelas suas conquistas profissionais. A indicação foi feita pelos vereadores Mário Carlos Nogueira Neto, Antônio Eurípedes da Silva e José Reginaldo Moretti e teve aprovação de todos os membros. “O Carlos Toyota é um exemplo de atleta e cidadão. Um filho de Guaíra que está se destacando profissionalmente no exterior. Merece o reconhecimento de toda a nossa população e esta medalha de honra ao mérito é merecida”, declarou o presidente da Câmara naquela ocasião, Netinho Nogueira.

Em dezembro de 2016, Toyota disputou o cinturão do Road FC, considerada uma das maiores organizações asiáticas de MMA. No início de 2017, foi convocado pelo Real Fight para lutar em São Paulo no Azarlet Fighting Globe Championship, no primeiro evento da companhia no Brasil. De volta ao Japão, sagrou-se campeão nacional de karatê kyokushin, em Osaka, e venceu o asiático de jiu-jitsu, em setembro, em Tóquio.

 

AERO FIGHT

Lutador amante da música e da dança, ele decidiu unir suas paixões no início dos anos 2000 e foi um dos precursores na comunidade com o aero fight, modalidade que mescla movimentos de luta com exercícios aeróbicos ao som de trilhas sonoras contagiantes e que vem conquistando cada vez mais adeptos. Carlos Toyota tem instrutores formados que ministram aulas pelo Japão.

 

PERSEVERANÇA E DETERMINAÇÃO

Aos 46 anos, Toyota revela que sempre que recebe o convite para um novo desafio é aconselhado a pendurar as luvas. “Nunca peguei adversário fraco, mas sempre fui muito desestimulado. Já me desestabilizei bastante. Hoje, filtro o que ouço. Sei que não sou melhor que ninguém, mas também não sou pior que ninguém. Procuro não dar ouvidos para as influências negativas”, enfatiza o lutador que obteve seu primeiro cinturão aos 42 anos.

Carlos Toyota e Antônio Rodrigo Nogueira (Minotauro)

Em sua trajetória para realizar o sonho de viver do esporte, ele sempre recebeu críticas por abrir mão das horas extras e do dinheiro das longas jornadas de trabalho para se dedicar à luta. “Falavam que eu não gostava de trabalhar. Mas o que eu não queria era ficar o dia inteiro na fábrica e ver a vida passar. Respeito que tem uma meta e cumpre, mas a maioria não tem. Leva uma vida que prioriza o trabalho e deixa de lado a parte pessoal”, reflete citando o exemplo que presenciou na família. Recentemente seu irmão sofreu um infarto dentro do serviço numa noite de domingo e veio à falecer dias depois em Shizuoka.

Perseverança, dedicação e determinação foram fundamentais para que Toyota não desistisse no meio da caminhada. Ele já começou 2018 lutando no Ganryujima, em Chiba, no dia 3 de janeiro e agora vai em busca de um cinturão na Índia, da obtenção do 4º grau de jiu-jitsu e do título mundial (master), o único que lhe falta na arte suave, além da defesa dos cinturões que possui do evento Accel (MMA e kickboxing).

Parar não faz parte de seus planos. “Enquanto eu acordar com aquela garra, aquela vontade e Deus me der forças, seguirei lutando”, finalizou.

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