Por Alex Kinjo em 29-09-2019 Destaque
TopBR.JP – Nascido no Brasil e criado no Japão, o judoca Eduardo Katsuhiro Barbosa sagrou-se campeão na semana passada do Troféu Brasil de Judô disputado no Ginásio do Cruzeiro em Brasília-DF. Eduardo venceu todas as lutas da categoria até 73kg, derrotando concorrentes diretos à vaga de titular da seleção brasileira.
“Já tinha medalhado algumas vezes, mas foi a primeira vez que fui campeão. Essa vitória foi muito importante para minha afirmação na categoria dentro do Brasil. Pude mostrar que sou o melhor e estou na melhor forma e preparado para representar o país internacionalmente. Foi muito bom para pegar confiança, ritmo de competição e uma grande preparação para continuar firme em busca do meu objetivo maior que é me classificar para os Jogos Olímpicos”, afirmou.
PREPARAÇÃO FÍSICA E MENTAL
Eduardo relatou que o ouro não foi fruto somente da preparação física, mas principalmente da parte mental. Do último ano para cá, o atleta ficou em quinto lugar em quatro competições do circuito mundial. Chegou às semifinais, mas depois de perder as vagas na decisão, sofreu revezes na disputa pelo bronze sem conseguir alcançar o pódio. Foi assim no Grand Prix de Cancún (MEX) e no Grand Prix de Hague (HOL) em 2018. Neste ano, o enredo se repetiu no Grand Slam de Ekaterinburgo (RUS) em março, e no Grand Prix de Montreal (CAN) em julho.
Para mudar a história, o judoca apostou em um acompanhamento psicológico aliado à preparação física que vem ajudando a lidar com adversários invisíveis de atletas de alto rendimento como a pressão e outros fatores.“Batia na trave. Chegava até a semifinal, mas nao conseguia ir para final e na disputa por bronze, por pouco deixava escapar a medalha. Estou fazendo trabalho com psicóloga para melhorar essa parte e conseguir avançar nas competições e subir mais um degrau. No Troféu Brasil, consegui colocar isso em prática e não vejo a hora de pôr em prática também nas competições internacionais”, explicou.
RETORNO ÀS ORIGENS EM HAMAMATSU
Para a disputa do Campeonato Mundial realizado em agosto em Tóquio, a seleção brasileira fez toda sua preparação física e aclimatação em Hamamatsu (Shizuoka), cidade que hospedará a delegação nas Olimpíadas de 2020. Foi lá que Eduardo cresceu e deu os primeiros passos no judô. Ele comentou a emoção de retornar ao local como atleta do Time Brasil.
“Voltar como membro da seleção brasileira para treinar para o mundial foi uma experiência única. Foi muito bom rever meus amigos, professores antigos e ver que todo mundo está torcendo por mim. Cada segundo valeu à pena. Ficou a sensação de gratidão com o pessoal local que deu todo o suporte e a vontade de voltar lá de novo (em 2020). Só me deu mais força e motivação para conseguir realizar esse meu sonho. Acredito que eu realizando esse grande objetivo, vou trazer muita alegria para o pessoal do Japão e de Hamamatsu”, disse.
Na década de 90, o pai de Eduardo, sensei Edson Barbosa, foi o primeiro estrangeiro a abrir no Arquipélago uma academia filiada à Federação Japonesa de Judô e à Kodokan, entidade pioneira no ensino da arte marcial no Japão. O professor enfrentou dificuldades e preconceito até consquistar a confiança e o respeito dos japoneses e deixou um legado na região. O trabalho iniciado por Barbosa continua atualmente através da academia Nikkey Judô Clube.
Hoje, Edson vive do judô no interior de São Paulo. Ele montou uma academia na cidade de Registro e dá aulas em cidades vizinhas. A filha mais velha e irmã de Eduardo, Daniele Yuri, que também cresceu em Hamamatsu, foi campeã pan-americana em 2007 e defendeu o Brasil nas Olimpiadas de Pequim, em 2008. Ela se aposentou dos tatames em 2011, e virou técnica. Mãe de dois filhos, Daniele é personal trainer e professora de língua japonesa.
BRONZE NO MUNDIAL E PÓDIO NO HISTÓRICO BUDOKAN DE TÓQUIO
O campeonato mundial deste ano teve um sentimento especial para os competidores, pois foi realizado no Budokan da capital japonesa, que sediou em 1964, a estreia da modalidade nos Jogos Olímpicos. Eduardo Barbosa lutou na competição por equipes e ajudou o Brasil a conquistar a medalha de bronze. “Competir no Budokan foi incrível. Fiquei bem nervoso, mas depois que subi no tatami a sensação era muito boa. Saiu o peso e me senti muito bem disposto, estava muito feliz de lutar ali representando o Brasil no país onde cresci. Tinha bastante gente torcendo pra gente e subir no pódio foi um momento histórico pra mim e para o Brasil. Essa medalha foi muito importante”, descreveu.
DURA ROTINA DE TREINOS EM BUSCA DO SONHO OLÍMPICO
Em busca do sonho olímpico, Eduardo retornou ao Brasil em 2009, e abriu mão de um futuro estabilizado no Japão. A vaga na seleção brasileira foi obtida através de muito esforço e superação. O judoca defende o Clube Paineiras do Morumby (SP) onde treina de segunda à sábado. A rotina de treinos ainda inclui preparação física (três vezes), treinamentos técnicos e táticos (três vezes) e corrida (duas vezes). Além disso, ele é 3º sargento no Programa de Atletas de Alto Rendimento do Exército Brasileiro.
“O treinamento é bem duro e frequento outros clubes além do meu para me preparar melhor. Temos mais ou menos oito meses até a Olímpiada e quem conquistar mais pontos no ranking internacional, fica com a vaga. Esse é o meu principal foco no momento”, frisou.
BASE JAPONESA COM A
GARRA BRASILEIRA
De acordo com ele, ter crescido no Japão, berço do esporte, e ter aprendido a
base da arte marcial in loco foi uma
vantagem muito grande. “O Japão tem essa tradição na parte técnica e o Brasil possui
uma preparação física muito forte e aquela raça e força de vontade que eu adquiri
lutando bastante nas competições nacionais desde que voltei”.
“Então, posso dizer que tenho essas duas coisas do judô (brasileiro e japonês) no meu jogo. No circuito mundial, cada país tem um estilo diferente, principalmente os europeus de Geórgia, Azerbaijão e Uzbequistão. A gente tem que se adapar a esses estilos e usar o que temos de melhor. Eu uso essa agressividade e raça do (judô) brasileiro com a origem e a base técnica do japonês e tenho tido bons resultados”, analisou.
Eduardo Barbosa se prepara para lutar no Grand Slam de Brasília, que acontece de 6 a 8 de outubro, e deixou um recado para a comunidade brasileira que torce por ele e que acompanha sua carreira. “Faz 10 anos que voltei para o Brasil. Sinto muitas saudades de Hamamatsu, mas essa escolha de voltar para o meu país para realizar meu sonho valeu muito à pena. Quero agradecer toda a torcida e todo o apoio e energia positiva que vocês me deram no Mundial. Conto com a torcida de todos para que eu consiga representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de 2020. Muito obrigado e gratidão à todos”, finalizou.
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