Carol Sato venceu a timidez e a vida rotineira para virar youtuber e maratonista

Por Alex Kinjo em 19-04-2018   Esporte


 

TopBR.JP – Ela superou a timidez e a instrospecção interagindo nas redes sociais, trocou o trabalho rotineiro de fábrica pelo de atendimento ao público numa operadora de telefonia móvel e deu um basta na monotonia diária com caminhadas e corridas até se tornar maratonista. Carol Sato, que reside em Gunma há mais de 10 anos, deixou velhos hábitos para trás, mudou sua alimentação e estilo de vida e hoje dá um exemplo de evolução pessoal.

A brasileira chegou ao Japão em 1º de janeiro de 1996, passando a virada do ano em pleno voo. Criada no país, sempre gostou de esportes em geral. Inclusive, brincava mais com os meninos do que com as meninas na escola. Após uma infância e adolescência normais, ingressou no mercado de trabalho. Gostava do Arquipélago, mas não se conformava com a vida monótona e cansativa que se resumia a casa-trabalho, trabalho-casa.

Em busca de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, frequentava palestras. Numa delas sobre gratidão, o palestrante sugeriu aos participantes que gravassem vídeos durante 21 dias agradecendo qualquer coisa que acontecesse na vida deles durante o período. Carol seguiu o pedido à risca. Relata que no começo se sentiu estranha, mas ao final da experiência percebeu que poderia colaborar com a vida das pessoas dando dicas simples sobre o cotidiano do Japão ou compartilhando passeios e novidades.

“Comecei a gostar. Vi que poderia agregar ao próximo com dicas de viagens, passeios, maquiagem, etc. Nos primeiros vídeos estava inibida, tinha vergonha de falar em público. Hoje, me sinto mais solta e espontânea”, lembra Carol que é youtuber desde o final de 2014. Outro ponto positivo, de acordo com ela, foi as amizades que surgiram através do canal. O conteúdo é variado.

 

 

Fluente em japonês, ela já ajudou internautas a comprar produtos para cabelos e maquiagem em lojas japonesas. “Produtos para cabelos ondulados e cacheados, por exemplo, são difíceis de achar aqui. Os que têm são para permanente. Então, pude dar conselhos sobre produtos que não são específicos para estes tipos de cabelo, mas que poderiam ser úteis e recomendo aqueles que eu mesma já usei”, comenta Carol que também já deu dicas de decoração baseada nos móveis da loja IKEA. “É uma ótima opção para quem está mobiliando o apartamento e não pode gastar muito. Mas a rede não tem unidades em todas as províncias”, afirma.

Outro vídeo que marcou a youtuber foi o que mostrou a rua principal de Oizumi. “Na avenida 354, filmei lojas, açougues, mercados e restaurantes brasileiros. Muita gente do Brasil não acreditou que eu estava gravando numa cidade japonesa onde a cada 10 pessoas que você encontra, uma é brasileira”, diz. A repercussão dos vídeos foi tanta, que ela já foi reconhecida tanto no trabalho como na rua por internautas. Também já recebeu várias mensagens de brasileiros que retornaram ao Brasil e mataram saudades do Japão através de seu canal. Já o vlog mais marcante que gravou foi o da subida ao Monte Fuji que ela define como a realização de um sonho.

 

 

DE YOUTUBER À CORREDORA
Em 2016, Carol viajou ao Brasil e visitou familiares em São Paulo, Bahia e Minas Gerais além de conhecer o Rio de Janeiro. Comparando a vida brasileira com a japonesa, reparou que os brasileiros estão sempre praticando alguma atividade física  e no retorno ao Arquipélago decidiu que dedicaria uma parte de seu tempo ao lazer. “Nunca gostei da rotina estressante do Japão e voltei do Brasil com a mente aberta para algo diferente. Trabalhei 11 anos numa fábrica e vi que não queria mais aquilo para mim”, analisou.

Com a demora até se reacostumar ao fuso horário japonês, acordava muito cedo e aproveitou esse período para caminhar. “Quando normalizou já havia criado esse hábito e levantava todos os dias às 5h para andar”. Nessa época, ela acompanhava o grupo de corredores brasileiros RunBRJapan, que incentiva a prática da corrida de rua, na comunidade. “Me perguntava se conseguiria correr. Seguia os posts do pessoal e comecei bem devagar. Primeiro com 2km, o que levava de 15 a 20min, depois caminhava. Aos poucos fui aumentando e passei só a correr. Nisso, já sentia os benefícios no corpo. A vibe e o ânimo para encarar o dia eram outros”.

 

VITÓRIA PESSOAL
Nesta época , Carol trocou o serviço na fábrica pelo de atendente numa companhia de telefonia móvel. Ela manteve o ritmo de corrida de junho à outubro, mas interrompeu devido à chegada do inverno. Retornou aos treinos em março de 2017, correndo entre 6km e 7km, três ou quatro vezes por semana, até conseguir completar 10km. A partir daí decidiu que correria uma meia maratona (21km). Gradativamente programou os treinos para percorrer distâncias maiores: 12km, 15km e 17km. O primeiro alvo foi a Meia Maratona de Iwata (Shizuoka) em novembro do ano passado.

“Na última semana antes da prova, me empolguei nos treinos e tive uma lesão perto do joelho. Competi com um pouco de dor, mas consegui completar o trajeto”. As outras seriam mais tranquilas, de acordo com ela. Em dezembro, participou da Meia Maratona de Tokorozawa (Saitama) e em janeiro deste ano, de outra, em Chiba. Com o apoio da RunBRJapan, era chegada a hora de encarar uma maratona (42km) e Carol definiu como meta o tempo de 4h30min para a Maratona de Shizuoka, realizada no dia 4 de março.

O começo foi tranquilo. Ela estava sendo monitorada pelo amigo e corredor experiente, Renato Eiji. Na parte mais cansativa do percurso, dos 25km aos 35km,  correu observando a paisagem com o mar ao lado. Perto do final da prova, Eiji alertou Carol que ela tinha 30 segundos para terminar a maratona no tempo previsto. “Vamos dar um tiro”, gritou Renato. Carol acelerou os passos e cruzou a linha de chegada com o tempo de 4h29min56seg. “Não teve como não chorar. Não havia palavras para explicar como foi superar a própria limitação”, reflete.

A resistência maior vinha do fator psicológico. “Se me concentrasse na dor e no cansaço, eles viriam. Corri pensando na paisagem e sentindo o toque das mãos do público recebendo a energia que eles me transmitiam. Me distraí com essas coisas e esqueci das dores”. Pelo lado pessoal, o amor cruzou o caminho da corredora durante sua preparação para as provas. “Uma amizade começou dentro das pistas e se transformou num sentimento muito especial para nós dois”, diz.

O próximo desafio já está marcado para a Maratona de Matsumoto (Nagano), em 30 de setembro. Antes disso, Carol fará uma trilha perto do Monte Fuji em Oshino (Yamanashi) no mês de junho. Ao recordar o passado, a brasileira sente orgulho das mudanças que fez em sua vida disposta a encarar os obstáculos com alegria e ´positividade. “Digo para as pessoas fazerem algo diferente. Mesmo que fique com medo ou receio do que os outros vão pensar, é importante dar o primeiro passo. No esporte ou em outra área, ninguém vai poder fazer por você. No meu caso que era tímida, comecei com os vídeos, hoje trabalho com atendimento ao público e virei maratonista”, enfatiza.

Em função das preparações para as corridas, Carol não vem postando novos vídeos. Mas voltará em breve com novidades para os amigos, seguidores e internautas em geral que acompanharam sua transformação pessoal através das redes sociais e acabaram recebendo esse exemplo como motivação.

“Dessa vez, vou compartilhar o meu lado corredora com dicas para quem quer começar a correr”, finaliza. Se você gostou da história de Carol Sato, assista aos vídeos em seu canal no YouTube e acompanhe as novidades no Instagram dela.

 

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