Brasileiros retomam campanha de “Free Hugs” em Nagoya

Por TopBr em 04-01-2020   Comunidade


TopBR.JP – Após um intervalo de três anos, brasileiros retomaram em dezembro de 2019, a campanha de abraços gratuitos “Free Hugs” em Nagoya (Aichi), numa iniciativa de Sidney “Tama” Tamagusku, membro do primeiro grupo formado nas redes sociais em 2011/2012 e que agora vem resgatando as atividades. Na praça próxima ao complexo Oasis 21, no bairro de Sakae, japoneses e cidadãos de várias nacionalidades que transitavam no local foram contagiados com a energia positiva e calor humano emanados pelos brasileiros no último mês.

Animador de eventos na comunidade há mais de 20 anos, e membro da Igreja Messiânica, Sidney, convidado por uma amiga, entrou para o grupo pioneiro formado inicialmente no Orkut e que migrou em seguida para o Facebook. “Quando ela me chamou, era justamente o que estava procurando. Um gesto simples, mas poderoso que pudesse transmitir amor e energia positiva para as pessoas”, recordou. As perucas, o nariz de palhaço, e trajes de fantasia que usava nos festivais ajudavam a quebrar o gelo e tornavam o contato com os pedestres mais animado e descontraído.

A partir daí, foram mais de 10 campanhas atuando ativamente até que os líderes do grupo interromperam a campanha devido à mudanças de serviço, província e razões familiares e pessoais. O projeto ficou parado por três anos. Foram várias as ocasiões onde Sidney, morador de Okazaki, encontrou amigos e conhecidos que pediam pela volta das distribuições de abraços coletivos. “Todo mundo queria que o trabalho prosseguisse, mas não havia ninguém para tomar a iniciativa e eu não podia largar meu posto como ministro da Igreja e minhas atividades pessoais para assumir mais esta responsabilidade”, revela.

No ano passado, Tamagusku se afastou temporariamente do cargo na Igreja Messiânica e nesse período decidiu tomar à frente da campanha e ressuscitar o Free Hugs Japan. Como ele seria o líder, decidiu em comum acordo com alguns remanescentes colocar algumas regras para que só participe quem estiver disposto realmente ao voluntariado de cunho social.

NARCISISMO E OSTENTAÇÃO
“A verdade é que havia muito narcisismo. Gente que ia somente para tirar selfies e mostrar que estava envolvido(a) em atividade solidária no Japão nas suas redes sociais. Outras pessoas vestiam roupas de grife e aproveitavam o movimento e toda a exposição do Free Hugs para ostentar. Durante o inverno, alguns jovens consumiam whisky para esquentar o corpo e iam para a praça com bafo de álcool cumprimentar as pessoas. Eram várias coisas que tiravam o foco do objetivo principal do projeto”, aponta.

Tama esclareceu os interessados e convocou pessoas dispostas ao encontro marcado inicialmente para 23 ou 24 de novembro. No entanto, foi obrigado a adiar a data pela forte chuva e pela reunião do G20 que interditou a capital de Aichi. No dia 1º de dezembro, que marcou o retorno do grupo, somente o atleta Jeferson Nakano e Sidney compareceram.

EXPERIÊNCIA MARCANTE
Em sua primeira vez no Free Hugs, Jeferson ficou maravilhado com a experiência. “Ele é grande e forte e achava que as pessoas ficariam receosas em vir abraçá-lo mesmo segurando a placa convidativa. Depois, foi se acostumando, se sentiu muito bem e no final admitiu que essa foi uma das melhores experiências que teve”.

O fato mais marcante do dia foi um latino que enfrentava problemas particulares e abraçou a dupla por mais de cinco minutos. “Não falou o que tinha, mas saiu mais confortado e isso não tem preço”, apontou Tama. Sidney e Jeferson abraçaram tantas pessoas que nem sobrou tempo para guardar uma recordação da data do reinício do Free Hugs JP.

No dia 29, 20 pessoas, a maioria esportistas, foram à Sakae vindos de várias partes de Aichi e Gifu. Embora estivessem acostumados com a adrenalina das competições e conhecessem bem o sabor das vitórias, derrotas e da superação de limites, todos encerraram o dia realizados. Alguns saíram sem conseguir explicar tamanho sentimento de satisfação pessoal.

ENERGIA POSITIVA
Segundo Sidney Tama, como o abraço é um gesto tão valioso capaz de mudar o rumo da vida de uma pessoa dependendo da situação onde ela se encontra, ele procura estar sempre em alta vibração para transmitir o máximo de energia positiva à todos que abraçar.

O brasileiro relata que certa vez algumas participantes alegaram que a sua aceitação pelo povo de Nagoya se devia ao fato dele já ter atuado várias vezes no palco e por usar peruca e adereços de palhaço, o que de acordo com elas, facilitava e muito nas abordagens ao público. Ele respondeu afirmando que era seu campo vibracional que fazia toda a diferença. Já os acessórios poderiam até atrapalhar já que recentemente a imagem do palhaço vem sendo desgastada pela exposição em filmes de terror.

“Tirei a peruca e o nariz. As pessoas continuavam a vir receber meus abraços e assim provei para elas que era a energia que eu emanava que atraía o público para mim”, salientou. A partir de agora o grupo planeja promover de três a quatro campanhas anuais.

Para quem tem interesse em colaborar e conhecer o projeto, existe um grupo no Facebook com várias dicas e curiosidades sobre a iniciativa no Japão e no mundo. Para fazer parte é preciso ser adicionado por um membro. Este se torna responsável pelo novo integrante. Mais informações podem ser obtidas com Sidney Tamagusku pela rede social.

RELATO PESSOAL
Tama aproveitou a oportunidade para descrever algumas situações surpreendentes que vivenciou. Confira abaixo o relato:

“Certa vez teve uma senhora idosa que olhou para mim e provavelmente não sabia o que estava escrito no cartaz em inglês. Estava dura, um pouco tensa, mas deixou eu abraçá-la e disse: ‘Isso é coisa de Gaikoku-jin!’. Então, expliquei que estava a abraçando porque ela se parecia com minha mãe que estava no Brasil e a partir daí, ela relaxou. Nisso, chamei os outros voluntários que foram abraçar ela também.

A idosa disse que iria perder o ônibus. Afirmei que depois ela poderia pegar outro. No final das contas, ficou até o fim da nossa atividade e deu um depoimento fantástico. Disse que nunca recebeu tantos abraços na vida como naquele dia e estava muito feliz pelo contato caloroso que teve conosco.

Depois, foi com uma familia que estava acompanhada de uma criança. Usava nariz de palhaço e a criança olhou para mim e logo veio me abraçar. O pai ficou meio desconfiado, mas veio. A mãe, por sua vez, não queria. Convidei para abraçá-la e ela disse a mesma coisa da senhora acima citada: ‘Isso é coisa de Gaikokujin!’.

Eu repliquei dizendo que aquilo não era coisa de Gaikoku-jin ou de Burajiru-jin, mas de Sekai-jin, pessoa do mundo. Quando falei isso, ela deixou abraçá-la e seu coração que estava duro, amoleceu. Depois reconheceu o equívoco e falou que realmente o abraço não é uma coisa de um país ou de um povo, e sim, um ato de amor fraternal. Ela foi embora e uma hora depois voltou com a família inteira e nos abraçou.

Já vivenciei o caso de uma pessoa que largou o carro no semáforo, saiu correndo para vir abraçar a gente e depois voltar para o veículo. Os ciclistas costumam parar a bicicleta, nos abraçam e depois retomam seu rumo. E ainda tem os idosos que ao nos ver com os braços abertos, apesar da dificuldade de enxergar ou entender o significado, desviam de seu trajeto normal só para nos abraçar. Isso tudo sem contar as crianças. Elas são muito verdadeiras. Abrimos os braços e elas logo vem ao encontro receber nosso abraço afetuoso. É um prêmio para a gente”.

Fotos de: Vanessa Nishisaka